A. A. de Assis

DESPEJORATIVAÇÃO DOS ANIMAIS
Crônica

Há várias maneiras de avaliar o grau de civilização de um povo; uma delas é observar a maneira como esse povo trata os animais não humanos. No Brasil já alcançamos algum progresso nesse quesito, porém falta um pouco mais de conscientização.
A lei tem conseguido alguns bons resultados na defesa dos animais silvestres, contudo parece ainda carente de aperfeiçoamento quanto aos animais domésticos. Há dúvidas, por exemplo, com relação aos pássaros que vivem em cativeiro. Dá dó vê-los em gaiolas, porém fica no ar a pergunta: e se eles forem soltos na natureza, será que sobreviverão? O ideal seria então parar de criá-los presos.
Há também quem pense na situação de outros animais de estimação, como os cães e os gatos. Mas para onde iriam se fossem “libertados”? Eles não saberiam viver nos bosques ou nas matas.
Tem sido, igualmente, motivo de preocupação o uso de veículos com tração animal. Embora já exista legislação proibindo ou restringindo essa prática, ainda se veem, em muitos lugares, carros de bois e carroças puxadas por burros ou cavalos. Quem dera os nossos netos e bisnetos não vejam mais isso.
E há outra forma de desrespeito, que todavia ainda não foi pensada com a necessária atenção: a pejorativação dos animais. A todo instante ouvimos alguém xingando alguém de burro, anta, baleia, cachorro, cavalo, égua, galinha, jararaca, jegue, jumento, perua, piranha, porco, raposa, vaca...
É um mau hábito arraigado na cultura, um mau costume. No mínimo uma indelicadeza, e em duplo sentido – quando alguém chama alguém de “burro” está ofendendo não somente a pessoa xingada, mas também o próprio burro.
Claro que há também nomes de animais que valem como elogios: chamar a namorada de “gatinha”, chamar um cantor ou poeta de “rouxinol” ou “sabiá”, dizer que o filho é “cobra” em matemática ou que a filha é “fera” em biologia. Mas aí tudo bem.
Daria sim para aos poucos reeducar a linguagem, higienizar o vocabulário, evitando magoar outras pessoas ou desqualificar os animais não humanos. É só uma questão de autodisciplina.
Espera-se que as próximas gerações aprendam a ver todos os seres como parceiros e amá-los com máximo respeito e carinho.
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Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá - 31-07-2025
* A. A. de Assis, jornalista, escritor, poeta e professor é um dos pioneiros da vida intelectual e cultural de Maringá. Atuou com brilhantismo na imprensa local e tem uma aplaudida vida acadêmica como professor na Universidade Estadual de Maringá. Como trovador, tem uma coleação de mais de 10 mil trovas. É grande cronista da cidade de Maringá, "o melhor lugar do mundo".