Acidez dos oceanos está acima do limite para equilíbrio planetário
Laboratório Marinho de Plymouth do Reino Unido divulgou pesquisa nesta segunda-feira, 9 de junho

A acidez dos oceanos, fenômeno causado pela absorção excessiva de gás carbônico (CO₂) da atmosfera, ultrapassou o limite de segurança para o equilíbrio planetário em 2020. A conclusão é de um estudo divulgado nesta segunda-feira (9) por pesquisadores do Laboratório Marinho de Plymouth (PML), no Reino Unido.
A informação só pôde ser confirmada cinco anos depois, graças ao uso de tecnologias mais modernas e modelos computacionais aplicados a materiais coletados ao longo dos últimos 150 anos. O estudo, intitulado Acidificação dos oceanos: mais um limite planetário ultrapassado, aponta que esse processo silencioso compromete de forma significativa a saúde dos ecossistemas marinhos.
“É um dado robusto, com alcance global, que revela uma realidade até então fora do radar dos limites planetários. O grande avanço foi integrar essas informações a esse contexto”, explica Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.
O conceito de limites planetários foi criado em 2009 pelo Centro de Resiliência de Estocolmo e estabelece nove fronteiras ambientais essenciais para a estabilidade do planeta. Antes do novo estudo, seis já haviam sido ultrapassadas. Com a confirmação da acidificação oceânica como o sétimo limite transgredido, cresce a preocupação com o futuro climático global.
Turra alerta para o caráter invisível do fenômeno:
“Diferente do lixo no mar, que é visível, a acidificação é silenciosa e imperceptível no dia a dia. Por isso, exige ainda mais atenção.”
Impacto direto sobre a vida marinha
A alta absorção de CO₂ reduz o pH da água do mar, diminuindo a concentração de carbonato de cálcio, substância essencial para a formação de conchas, corais e estruturas ósseas de diversos organismos marinhos.
“Isso compromete o crescimento de recifes de coral, fragiliza conchas de moluscos, autólitos de peixes e, com isso, limita a capacidade de organismos interagirem com o ambiente”, explica Turra.
Segundo a professora Letícia Cotrim, da UERJ, a acidificação também afeta a fisiologia, crescimento e reprodução de espécies, o que ameaça a biodiversidade marinha em diferentes regiões do planeta.
O estudo propõe um novo parâmetro para esse limite planetário: a redução de 10% na concentração de carbonato de cálcio em relação aos níveis pré-industriais. Em 2020, quando essa fronteira foi ultrapassada, os pesquisadores observaram que 60% do oceano com até 200 metros de profundidade e 40% das águas superficiais já estavam comprometidas.
Entre os impactos observados, destacam-se:
- Redução de 43% nos habitats de recifes de coral tropicais e subtropicais;
- Perda de até 61% para pterópodes polares (conhecidos como borboletas marinhas);
- 13% de perda para bivalves costeiros.
Alerta climático
Para os pesquisadores, a acidificação dos oceanos reforça o que a ciência já alertava: quanto maior a concentração de CO₂ na atmosfera, mais rápido se rompem os limites ambientais seguros. Isso acelera o aquecimento global e dificulta o cumprimento do Acordo de Paris, que estabelece o aumento máximo de 1,5 °C como limiar seguro.
Turra ressalta que o Brasil, como país marítimo e sede da COP30, marcada para novembro, tem papel crucial nesse debate global.
“A COP30 será uma oportunidade para conectar, com clareza, a questão do oceano ao clima. Precisamos reduzir emissões, ampliar o sequestro de carbono e implementar ações concretas com impacto real”, conclui.
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