Opinião - Arthur Oliynik

Política líquida: seu vereador está legislando ou fazendo dancinha?
Para que serve, afinal, um vereador? A pergunta não é retórica; é necessária e urgente

Há quem diga que política é a arte do possível, mas nos últimos tempos parece ter se convertido na arte do visível. Não o visível no sentido virtuoso da transparência democrática, mas numa incansável busca por "engajamento", "likes" e tendências nas redes sociais. O cargo de vereador, antes sinônimo de responsabilidade e respeito institucional, hoje facilmente se confunde com o de influenciador digital. Diante disso, cabe a pergunta essencial e incômoda: para que realmente serve um vereador?
Esse questionamento me intriga, e vem de alguém com a peculiar "autoridade" de quem já esteve dentro da máquina legislativa, presenciando de perto o funcionamento de uma Câmara Municipal, essa curiosa "startup pública" repleta de pseudo celebridades locais, ávidas por atenção digital, manchetes em jornais e citações em blogs mesquinhos.
Longe de mim atacar vossos nobres vereadores. Entretanto, permito-me referir àqueles que, lá dentro, tive a oportunidade de acompanhar de perto em seu desespero midiático, lutando para transformar uma produção legislativa pífia em algo chamativo para seguidores e repórteres locais. Ao fim de cada mandato, salvo os que conseguem a reeleição sucessivamente, desaparecem na indiferença popular.
Fiscalizar, tarefa primordial atribuída ao vereador, transformou-se em mero espetáculo midiático. Uma espécie de instituição líquida, com relações fugazes e legisladores preocupados com performances imediatas, como bem descreveu o sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro "Modernidade Líquida": "A instantaneidade e a efemeridade se tornaram os critérios dominantes de valor". Uma enxurrada constante de requerimentos protocolares e superficiais é publicada nas redes sociais como se fossem grandes feitos políticos. Afinal, para muitos, mostrar quantidade tornou-se sinônimo de qualidade.
Produzir leis, outra função-chave, revela-se igualmente frustrante. A realidade prática é que pouco resta por legislar no âmbito municipal, dada a estrutura excessivamente centralizada do nosso pacto federativo. A atuação dos vereadores frequentemente se restringe à elaboração de leis simbólicas e irrelevantes, muitas vezes redundantes, que frequentemente acabam recebendo um "puxão de orelha" do corpo jurídico da Casa Legislativa.
Outro comportamento típico dos novos vereadores é transformar denúncias públicas de problemas já conhecidos pela cidade em atuações sensacionalistas. Esses vereadores escolhem a exposição midiática cuidadosamente editada no lugar das soluções concretas. O que uma simples ligação telefônica ao secretário municipal resolveria transforma-se em requerimento burocrático, postagem em vídeo nas redes sociais com trilha sonora motivacional e uma descrição brega de que "a luta não para!". De qual luta estamos falando exatamente?
Ao final, resta-nos perguntar criticamente: para que serve, afinal, um vereador? A pergunta não é retórica; é necessária e urgente. Enquanto o espetáculo político permanecer mais atrativo que a realidade concreta, estaremos fadados a conviver com vereadores que brilham intensamente nas telas, mas são vazios na prática cotidiana.
__
* Arthur Oliynik, bacharel em Direito, consultor e especialista em Vistos Internacionais.
Pós-graduando em Direito Tributário, Previdenciário e Reformas. Nota da Redação: os textos, fotos, vídeos, tabelas e outros materiais iconográficos publicados nos espaços “colunas” não refletem necessariamente o pensamento do portalhojemaringa.com.br, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.