Ex-presidente da CBF recebeu quase R$ 2,5 milhões em mesada mesmo fora do cargo

Mesmo sem ocupar cargo na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) desde agosto de 2021, o ex-presidente interino Antonio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, 86, recebeu uma espécie de mesada da entidade. De 2022 a 2024, ele acumulou aproximadamente R$ 2,5 milhões em pagamentos mensais identificados como “honorários”, segundo documentos internos da confederação obtidos pela imprensa.
Os comprovantes mostram que, em 2022 e 2023, Nunes recebeu R$ 1,2 milhão; e em 2024, mais R$ 1,15 milhão. As transferências mensais giravam em torno de R$ 72 mil líquidos, mesmo sem vínculo formal com a entidade.
A CBF não explicou os motivos dos repasses, limitando-se a afirmar que tudo está de acordo com o estatuto e auditado. Familiares de Nunes não responderam aos contatos da reportagem.
O ex-dirigente foi um dos signatários do acordo que manteve Ednaldo Rodrigues na presidência da CBF até 2026. O documento, assinado em janeiro e homologado em fevereiro de 2025 pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, reconheceu a legalidade das assembleias que mudaram o estatuto da CBF e garantiram a eleição de Ednaldo.
A legalidade do acordo voltou a ser questionada após a revelação de um laudo médico, de 2023, que aponta que Nunes sofre de tonturas, ataxia, déficit cognitivo e possui um tumor cerebral maligno diagnosticado em 2018. A dúvida é se ele tinha condições de assinar o documento conscientemente.
O deputado federal Sargento Gonçalves (PL-RN) pediu uma audiência pública para esclarecer o caso, com convocação de Ednaldo, Nunes, o médico da CBF Jorge Pagura e testemunhas da assinatura.
A CBF nega qualquer irregularidade e diz que "nunca houve tanto controle e transparência" na entidade.