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Opinião - Arthur Oliynik

A direita analfabeta sobre Israel

A direita brasileira tenta defender Israel com base em valores que, muitas vezes, ela mesma não sustenta aqui dentro, no Brasil

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A direita analfabeta sobre Israel Uma reflexão sobre realidade, ideologia e fanatismo

Você já deve ter ouvido — e provavelmente até repetido — a frase: “Israel é a única democracia do Oriente Médio”. Pois é. Essa é a frase padrão da direita brasileira que tenta defender Israel com base em valores que, muitas vezes, ela mesma não sustenta aqui dentro. E mais: é uma defesa mal informada, caricata e, acima de tudo, submissa.

Israel não precisa de desfile gay para ser defendido

Boa parte da direita que se diz conservadora resolveu apoiar Israel porque lá tem parada gay. Porque mulher pode usar roupa curta. Porque há uma suposta liberdade de imprensa. E então começam os comparativos rasos com o Irã, com o Talibã, com os “bárbaros do deserto”. É como se o critério para a legitimidade de uma nação fosse ser uma filial do liberalismo progressista do Ocidente.

Mas se for por isso, então Islândia e Suécia estão mais bem posicionadas que Israel no “ranking moral” do mundo. E, ainda assim, ninguém na direita brasileira parece muito interessado em sair enrolado na bandeira da Noruega.

O ponto é: Israel não precisa ser elogiado por aderir à pós-modernidade. Aliás, muitos dos problemas enfrentados internamente por lá são justamente por ceder demais a ela. A existência de Israel é legítima por razões históricas, culturais, geopolíticas e de defesa — não por suas pautas identitárias.

A direita que se comporta como papagaio do adversário

Em vez de construir uma narrativa própria, o que vemos é parte da direita se apropriando da régua moral da esquerda liberal globalista. Fica tentando mostrar que “os gays estão mais seguros em Tel Aviv do que em Teerã”. E aí espera um tapinha nas costas. Como se isso justificasse tanques nas fronteiras.

Isso não é só bobo — é burro. Porque quando você usa os valores do seu adversário para defender seu aliado, você está dizendo que ele venceu. Que a régua dele é a correta. Que a sua ideia de civilização depende da aprovação do outro. E aí, meu amigo, você já perdeu o jogo.

A submissão evangélica e o fetiche da bandeira de Israel


E então temos o outro polo da direita: os evangélicos de púlpito e palanque, que transformaram Israel em um fetiche escatológico. Israel virou, para eles, o sinal do fim dos tempos, a terra prometida da Nova Jerusalém, e qualquer crítica ao Estado laico e secular de Israel vira “blasfêmia”.

O problema? Israel não é o Israel da Bíblia. Não é o reino de Davi. É um Estado moderno, com exército, impostos, corrupção, esquerda, direita, e até ateus. É governado por seres humanos falhos — e não por querubins. Inclusive, é formado por um povo judeu que nem acredita no seu cristianismo.

Então essa postura de “vassalo do povo escolhido” não é fé. É falta de autoestima. Nenhuma religião na antiguidade aceitava adorar um deus que escolhia outro povo. Isso é um fenômeno específico de um cristianismo deformado e colonizado, que trocou a cruz por um Magen David no peito sem sequer entender o que isso significa.

O brasileiro, em vez de encarar sua própria história, prefere se agarrar à de outro povo pra tentar se sentir parte de algo maior. É como se buscasse dignidade emprestada, por não conseguir enxergar grandeza em si mesmo.

Israel merece ser defendido — mas pelos motivos certos

Israel é uma das poucas nações do mundo que, em menos de 80 anos, saiu do nada e virou potência em tecnologia, agricultura, defesa e ciência. É um país com um povo extremamente talentoso, que transforma deserto em centro de inovação e soldados em cientistas. É o tipo de nação que sabe extrair o melhor do seu material humano. Isso, sim, é admirável.

O exército de Israel recrutou um jovem psicólogo nos anos 50 — Daniel Kahneman — e o colocou para redesenhar o sistema de avaliação de oficiais. Resultado? Um prêmio Nobel anos depois e uma revolução nas ciências cognitivas. Enquanto isso, aqui, a gente mal sabe usar um questionário de RH.

Defender Israel é também entender o contexto

O Oriente Médio é um barril de pólvora. Estados teocráticos, ditaduras hereditárias, milícias tribais. Nesse cenário, Israel não é só uma exceção — é um milagre racional. Cercado por inimigos, constantemente sob ameaça, sobrevivendo e vencendo porque aposta em gente inteligente, em estratégia, em avanço tecnológico e coesão interna.

E mesmo assim, Israel comete erros. Os ataques desmedidos em Gaza levanta questionamentos sérios. Os assentamentos, a desigualdade entre cidadãos árabes e judeus, a radicalização de certos setores religiosos — tudo isso precisa ser debatido. E justamente por Israel ser uma democracia funcional, ele pode (e deve) ser cobrado.

Mas cobrar não é abandonar. E apoiar não é bajular.

Chega de analfabetismo geopolítico

A direita brasileira precisa amadurecer. Precisamos sair da fase do “Deus acima de tudo e Israel no coração” para uma fase de análise, de estratégia, de entendimento profundo da política internacional. Israel não é mascote de marcha gospel. Não é cartaz de templo neopentecostal. É um país soberano, com seus interesses, seus problemas e suas virtudes.

Defenda Israel. Mas não pelo desfile de Tel Aviv. Nem pelo Apocalipse de João.

Se é para haver uma razão cristã, que seja, ao menos, a missão que nos cabe como cristãos (e católicos): a conversão do povo judeu à plenitude da fé — e não uma idolatria política travestida de devoção.

Defenda porque é certo. Porque o mundo precisa de países que se erguem com base em mérito, ciência, coesão e coragem.

E porque, numa vizinhança de tiranos, Israel insiste em ser uma ilha de racionalidade.

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Arthur Oliynik, bacharel em Direito, consultor e especialista em Vistos Internacionais.
Pós-graduando em Direito Tributário, Previdenciário e Reformas.  
Nota da Redação: os textos, fotos, vídeos, tabelas e outros materiais iconográficos publicados nos espaços “colunas” não refletem necessariamente o pensamento do portalhojemaringa.com.br, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.  



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